sexta-feira, 8 de outubro de 2010

a obra de Champalimaud



De António Champalimaud temos a imagem de um homem austero, colado ao Estado Novo e identificado como um capitalista sem piedade, que sempre explorou o povo e os trabalhadores. Essa imagem implacável, alimentada desde sempre, tornou-se um ícone do salazarismo e o exemplo de alguém que não merecia qualquer respeito.
Acreditamos que a dimensão desta imagem ainda subsista, em larga medida, na opinião pública nacional. E, convenhamos, Champalimaud não foi nenhum santo. Antes pelo contrário, tirou partido de muitas vantagens proporcionadas pelo regime salazarista!
Mas sucede que, neste tempo de fraco filantropismo, em que cada um procura "safar-se" o melhor que pode, não podemos ignorar o que Champalimaud legou a Portugal. Falamos, obviamente, do novo Centro de Investigação para o Desconhecido, que a fundação com o seu nome inaugurou no passado dia 5 de Outubro, junto à margem norte do Tejo.
Trata-se de um conceito brilhante, que apostará fortemente na investigação, em constante convivência com um hospital de dia, onde será tratada a mais terrível doença do nosso tempo. É uma obra magnífica: pelo conceito, pelo projecto e pela sua natureza!
Façamos, por isso, inteira justiça à memória de António Champalimaud que, na hora de partir, teve a "pequena" lembrança de reservar 500 milhões de euros para criar este centro e pô-lo ao serviço de Portugal e dos portugueses.
Para alguns será pouco e para outros um gesto de hipocrisia. Para nós, com franqueza, é um legado notável.
Outros houvesse neste país que, em circunstâncias semelhantes, tivessem um gesto desta dimensão. Desses, que não são poucos, é que nunca teremos qualquer boa memória! Pelo contrário.

[Correio Alentejo 8 Outubro]

4 comentários:

Celso Pereira disse...

Felicidades com o blogue. Um abraço. Celso.

Unknown disse...

Benvindo com o seu blog.
A propósito do gesto de Champalimaud, tive ha dias uma reflexão coincidente com a sua e não deixei de pensar, que a nível local e salvas as devidas proporções, existiu em Castro um homem de nome Jacinto Manuel Faleiro que legou quase todo o seu imenso património à comunidade. E lembrei-me também que somos tantas vezes injustos nos nossos pensamentos, juízos e valores acerca da essência das pessoas.

Anónimo disse...

"...António Champalimaud que, na hora de partir, teve a "pequena" lembrança de reservar 500 milhões de euros para criar este centro e pô-lo ao serviço de Portugal e dos portugueses.
Para alguns será pouco e para outros um gesto de hipocrisia. Para nós, com franqueza, é um legado notável".Como é um legado notável o bem estar que proporcionaram às pessoas de Casével e de Castro Verde, tanto António Joaquim Franco como Jacinto Manuel Faleiro, com a herança que cá deixaram.Quem nos dera que em Entradas tivesse havido um mecenas, nem que fosse desse tipo, talvez que os entradenses mais velhos agora não vivessem em sobressalto com a ideia de na fase final das suas vidas, terem que partir para outras paragens onde lhe garantam aquilo que os democratas ainda não foram capazes de garantir, não obstante os recursos económicos significativos que têm tido ao seu dispor e que livremente têm investido de acordo com o que acham mais importante.Bem hajam todos!
Maria Lucília Costa

Anónimo disse...

Se estava colado ao Estado Novo como é que esteve 5 anos sem poder estar em Portugal nessa altura? Será que foi por causa da resolução da herança Sommer?Sobre os 500 milhões acho muito bem, porque na altura a nível empresarial era o srº Champalimaud e o srº José de Mello que pagavam mais aos seus trabalhadores tanto na Siderurgia Nacional como na Lisnave e Setenave.

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