sexta-feira, 8 de outubro de 2010

sobrevivência e boa vida


Escuto o ministro das Finanças em directo na rádio e fico embevecido: "Não é possível atingirmos o nosso objectivo sem melhoria na receita. Sem ela não vamos alcançar o nosso objectivo".
As palavras de Teixeira dos Santos não podem ser mais concretas e reveladoras. As contas do país continuam pelas ruas da amargura e, como é hábito, desde sempre e para sempre, a dor vai voltar a bater à porta dos mais frágeis.
Contudo, este ministro que endireitou o défice herdado de Santana Lopes, parece não ter agora a coragem de outros tempos. Será a política a trair o técnico experimentado e credível?
Sem dúvida que sim! Teixeira dos Santos sabe muito bem que jamais superará a debilidade eterna das nossas contas públicas se continuar a aumentar apenas as receitas. Mesmo um cidadão que não percebe nada de economia, como eu, entende com rapidez que o Estado só conseguirá resolver este enorme problema se cortar na despesa.
Para a esquerda, mais cuidadosa e sensível, uma medida deste calibre será sempre o princípio da calamidade. Contudo, de uma vez por todas, é preciso compreendermos, e aceitarmos, que a desgraça já está dentro de nós!
Portanto, o que se pede ao ministro das Finanças, enquanto vértice de um Governo que supostamente quer pôr as contas nos eixos, é um quadro de medidas com cortes duros e concretos nos gastos do Estado. E isso tem de ser feito, em primeiro lugar, na anafada estrutura da sua administração, porque é aí que está o peso pesado do nosso problema.
Portugal gasta mais do que ganha e, sobretudo, fá-lo numa administração replicada em muitos sectores, dispensável noutros e, pior do que isso, perigosamente arregimentada em corporações egoístas.
Neste contexto de dificuldades, o que podem esperar os cidadãos dos políticos responsáveis e sérios? Que se credibilizem falando a verdade, mesmo que seja muito cruel. E que rejeitem com coragem as tácticas para subsistir ou conquistar o poder.
Será isto possível? Claro não! Os partidos – aqueles que se auto-proclamam de Estado e de poder e muito responsáveis – estão enredados numa imensa fileira de interesses que lhes garante a sobrevivência e a boa vida. Por isso, não querem saber de assumir tão pesada responsabilidade. Preferem conduzir-nos alegremente para um beco muito escuro e sem saída.

[revista 30 DIAS setembro 2010]

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