sexta-feira, 12 de novembro de 2010

apenas criança


Eu acho que ter um filho é uma coisa rara. Íntima e notável. Peço desculpa! Tenho a mania de escrever na primeira pessoa do plural mas, neste caso, sou obrigado a usar o pronome no singular. Porquê? A gente tem sempre um ridículo pudor em falar dos nossos filhos, dos seus alegres disparates, da necessidade de serem crianças e fazerem as mil asneiras a que têm direito.
Não sei se já reflectiram sobre isto, mas todos arranjamos formas de encontrar desculpas para dizer que temos os filhos perfeitos. Eu às vezes gostava de dizer que o meu filho não diz o que devia ser segredo, tem conversas com os meus amigos como se fosse um adulto muito maduro, tem ideias claras e objectivas sobre a profissão que quer ter um dia, está sossegado no restaurante como se estivesse a beber saborosas imperiais. E fica sempre sentado à mesa a discutir aqueles assuntos oportunos sobre os quais não faz a mínima ideia.
Por exemplo, o meu filho às vezes fala muito alto, revela “segredos” que deviam ser só nossos, refila com a sopa, com a necessidade de estudar e de arrumar o que desarrumou. No fundo, como li há poucos dias num jornal, ele quer é pegar na Play Station, descobrir na Internet as mais bonitas chuteiras da Nike, ir para o campo da bola com os amigos, divertir-se com os primos ou andar no campo, a ver de longe as cabras com o tio.
Mas a balança tem (quase) sempre dois pratos! Se lhe pedimos para estudar: cumpre. Se lhe exigimos boas notas: tem. Se lhe decretamos bom comportamento: acolhe… embora haja alturas que resvala para a necessidade de chamar a nossa atenção. Quer continuar a estar no centro do mundo que lhe criámos!
Às vezes, não raras vezes, tenho dificuldade em adequar ao meu filho de 10 anos a equação que sintetiza a brincadeira e a responsabilidade. Mas ponho os pés na terra e fico com o peito cheio quando lhe entendo a identidade e o carácter que se resumem em tão escassa vida. Fico feliz por ele ser como é! E o que é que ele é? Criança. Apenas criança.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito, mesmo!!!

Lena

Anónimo disse...

Encantadora e consciente reflexão e porque não, uma "Bela Confissão".
Os filhos são verdadeiramente o melhor que há no mundo, sem eles a nossa vida não faria sentido.Os nossos pais dizem exactamente a mesma coisa, sentiram exactamente o que sentimos, tiveram exactamente os mesmos medos,as mesmas alegrias e desejos, só que com outros "códigos", os deles, os que conheciam,os que tinham à sua disposição, mesmo que,ser criança nessa altura, não fosse o mesmo que ser criança hoje.
Bem hajam os pais que se orgulham de ser pais.
ML

LG disse...

Bonito!
Como compreendo e sinto o que escreveste.
Um abraço

Enviar um comentário