sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

brilham-nos os olhos


Podias ser o homem mais assertivo mas eras, ao mesmo tempo, um homem muito dócil. E eras tolerante, sensível e companheiro de todos os companheiros que te quisessem compreender e aceitar assim.

Temos saudades de ti.

Saudades da solidão intrigante que só a alguns revelavas. De te ver rasgar o empedrado das ruas da vila na velha motorizada, com a faca de mato, os binóculos e a máquina fotográfica a tiracolo. Vinhas do campo, com quem partilhavas segredos e sensibilidades. Onde simplesmente soltavas a aventura que tinhas dentro no peito, com gritos que cortavam a áurea do amanhecer e nos faziam sorrir. Ainda nos fazem sorrir!

Brilham-nos os olhos quando lamentamos a tua inesperada partida e recapitulamos o mistério das tuas decisões. Brilha-nos a alma quando nos fixamos nos instantes do teu olhar delicado, postos no papel em fotografias que exaltam as paixões que tinhas pela imensa terra que nos cerca e por tudo o que com ela convive.

Temos saudades de ti.

Mas voltaremos todos a encontrar-nos numa fotografia tirada à porta do céu. E beberemos, depois, todo o vinho tinto que nos apetecer, entre conversas sérias ou simples provocações, que te farão rir ou ser muito brusco, na exacta proporção que cimentou as nossas amizades.

Espera por nós.


Texto dedicado ao Zé Manel (2005)

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