quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

loja grande



A Loja Grande foi um local emblemático da vila de Entradas, cuja fundação se estima ter sucedido no século XIX. Embora não haja uma data conhecida que assinale a sua inauguração, sabe-se que em 1869 já tinha as portas abertas, pois foi nessa altura que João de Brito Palma ali começou a trabalhar, com apenas 13 anos de idade, tendo-a adquirido ao então proprietário e seu padrinho, Manuel Amador, provavelmente em 1878.
Para todos os efeitos a Loja Grande era o mais importante estabelecimento comercial da época e o barómetro económico da vila. Situada ao fundo da Rua do Paço, junto à actual Praça Zeca Afonso [residência actual dos irmãos Sales de Brito Palma], era gerida por um cunhado do dono, Joaquim Revez Duarte, e vendia mercearias, fazendas, louças, vidros, materiais de construção, cereais, artigos funerários e de drogaria, alfaias agrícolas, adubos, ferragens, sola e chapéus.
A generalização do comércio é tão grande que a loja chega a ser armazenista de cervejas e pioneira na região no negócio dos seguros para o sector agrícola.
Segundo exprime o registo contabilístico do estabelecimento, os apuros na gaveta eram consideráveis. Em 1903, ou 04, João de Brito Palma matava num só dia uns 10 porcos que vendia na totalidade ao balcão.
Nos anos 20, em meados de Agosto, por altura da Santa Maria, conhecido como dia dos almocreves e data tradicional para se pagarem rendas e fazerem contas, a loja tinha uma receita diária na ordem dos 15 a 20 contos (hoje, cerca de 75 a 100 euros).
Este número, há 85 anos, representa um volume de negócios extraordinário e, naturalmente, dá a conhecer uma situação financeira “confortável” dos moradores da freguesia e arredores, principais clientes do estabelecimento, que é um verdadeiro “hipermercado” desse tempo, chegando a ser considerado “o maior do concelho de Castro Verde”.
Para se entender verdadeiramente os valores que estamos a falar, vale a pena referir que em 1927 o orçamento anual da Junta de Freguesia de Entradas não passava dos 734$03. E em 1928 atinge um pouco mais: 767$55 (um pouco menos de quatro euros!).

Extracto do livro "Entradas - A Sociedade e a Vila" (2005)

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