terça-feira, 11 de janeiro de 2011

um herói em São Marcos


No início da década de Noventa era a grande coqueluche do Estádio de São Luís em Faro. Hoje, Manoel Inácio da Silva Filho, 48 anos, encanta o público alentejano com o seu futebol “rendilhado”, num porte elegante e vigoroso que pede meças aos mais jovens.
No mundo da bola, Manoel Filho ficou célebre como Pitico, jogador dos tempos áureos do Sporting Farense e actual “estrela” do FC São Marcos da Atabueira, Castro Verde, emblema que disputa a 1ª divisão distrital da Associação de Futebol de Beja.
Sempre solidário, interveniente, capaz de conceder uma palavra de conforto ou “disparar” um reparo mais incisivo, Pitico é o comandante da equipa e sabe usar a sua influência. Um estatuto que lhe é concedido pela carreira muito “calejada”, que continua a prolongar-se em terras alentejanas.
Tudo começou há cinco anos, quando um amigo o convidou para jogar em São Marcos. Pitico aceitou e começou a mostrar nos campos do distrital bejense que ainda continua em grande forma, apesar do trabalho o deixar treinar “poucas vezes”. “O segredo é ter uma vida regrada e evitar a noite. Sempre fui assim, muito ligado à minha família”, explicou.
No Alentejo, o jogador enaltece “os sentimentos de amizade e camaradagem” que o prendem à aldeia. Por isso regressa, todos os domingos, com outros companheiros algarvios. “Alguns pensam que andamos aqui a ganhar muito dinheiro. Talvez não percebam o valor da amizade”, remata em jeito de confidência, à porta do petisco com os companheiros e a “directoria”.
Longe vão os tempos com a camisola do Central de Caruaru, onde despontou em 1986. “Depois de Péle e Zico… temos Pitico”, anunciava em letras garrafais um jornal brasileiro, prevendo uma carreira auspiciosa ao rapaz de Caxias do Sul, na zona de Porto Alegre.
Sob as ordens de Emerson Leão, mudou-se para o Sport Recife, onde ganhou o título brasileiro de 1987. Mas Pitico tinha o sonho de jogar numa equipa de São Paulo. O objectivo foi concretizado quando o mesmo Emerson Leão trocou de emblema e quis levá-lo consigo. “Fomos campeões e ele me levou para o São José”.
O encanto da cidade cosmopolita durou apenas quatro meses. Debaixo do olho do Sporting, que optou por Marlon Brandão, o jovem extremo foi também observado por José Augusto, antigo “Magriço” e estrela do Benfica, na altura treinador do Farense. “Ele foi o grande responsável pela minha vinda para o Farense. Foi um dos grandes treinadores que tive e tenho uma amizade fora de série com ele”.
Pitico chegou a Faro rotulado de craque. Durante sete anos, foi a grande estrela de uma equipa recheada de bons jogadores, que atingiu as competições europeias e a final da Taça de Portugal. O seu futebol encantou emblemas mais poderosos e o brasileiro Marinho Peres insistiu em levá-lo para Alvalade. No último momento, a massa associativa algarvia fez pressão sobre a “directoria” do Farense e o negócio falhou. “O presidente [do Sporting] era Sousa Cintra e já tínhamos tudo acertado, mas no Farense as pessoas diziam que era impossível sair do clube. Não tinham como explicar a saída”.
O número 20 do FC São Marcos não esconde a mágoa com essa oportunidade perdida. Admite que foi falta de sorte e que perdeu muito dinheiro: “Deixei de evoluir como jogador e perdi muitos ganhos financeiros. Para te falar a verdade a vantagem [financeira] era abismal de mais”, confessou.
Benfica e Vitória de Setúbal também o “namoraram”, mas a transferência nunca se concretizou. Só em 1994, com nove meses de ordenados em atraso, entrou em ruptura com a direcção algarvia e mudou-se para o Beira-Mar, que recorda como “uma clube inesquecível”.
Dois anos depois voltou ao Algarve para ser jogador e treinador do Imortal de Albufeira. A experiência não durou muito tempo e o empresário Fernando Barata convidou-o para director desportivo. As coisas não correram bem e Pitico justifica-se afirmando que “estar fora da noite não ajudou nada”. “No Algarve, para conseguir um emprego como treinador é preciso estar na noite porque as pessoas estão na noite. Eu, como não tenho esse feitio, não vou ser treinador nunca”.

Publicado no "DN" (2007)

1 comentários:

Marcos Antônio do Amaral disse...

Sou ex-jogador de futebol, meu nome é Marcos Amaral, contudo era conhecido no meio futebolístico como "Amaral", e joguei com Pitico no São Paulo de Rio Grande/RS (Brasil), onde moramos juntos com João Carlos (zagueiro) e Valtinho (ponta). Gostaria de entrar em contato com Pitico para relembrar aqueles velhos tempos. Meu e-mail é marcosamaral.adv@hotmail.com ou marcosamaral.adv@terra.com.br. Obrigado!!!

Enviar um comentário